sábado, 31 de julho de 2010

Entrevista de Rick Riordan na revista Época

O novo Harry Potter

Rick Riordan, autor da série “Percy Jackson e os Olimpianos”, conta como fez adolescentes se interessarem pelo mundo da mitologia

O escritor americano Rick Riordan diz que não gostava de ler quando era criança. Hoje se esforça para escrever livros que os jovens leitores não consigam mais largar. Com a série infantojuvenil Percy Jackson e os Olimpianos, lançada no Brasil pela editora Intrínseca, Riordan se tornou best-seller mundial. O mais curioso é que o autor usa como pano de fundo para os cinco livros da saga o que há de mais tradicional da literatura: a mitologia grega. Percy é um garoto contemporâneo de 12 anos que vai mal na escola, tem poucos amigos e é diagnosticado com déficit de atenção. No primeiro livro, O ladrão de raios, ele descobre que é um semideus, filho de Poseidon, o deus dos mares, com uma mortal. E vive um monte de aventuras malucas para se proteger de monstros e de deuses enfurecidos. Tanto o primeiro quanto o segundo livro, O mar de monstros, lançado no Brasil em abril, costumam figurar na lista dos infantojuvenis mais vendidos do país. Segundo Rick Riordan, que também escreve romances para adultos, a série de Percy Jackson é um chamariz para a leitura de literatura clássica. “Tenho a chance de transformar as crianças em leitores para a vida toda”, diz Riordan em entrevista a ÉPOCA:



ÉPOCA – O senhor era professor. A experiência em sala de aula o ajudou de alguma maneira a escrever a saga de Percy Jackson?

Rick Riordan – Com certeza. Quando escrevi O ladrão de raios, imaginei-me lendo-o em voz alta para meus alunos. Eu queria criar um romance que retivesse a atenção da classe inteira, não apenas dos alunos que já amassem ler. Eu fui um leitor relutante quando criança. Como professor e escritor, faço um esforço consciente para atingir aquelas crianças que, como eu, talvez não sejam grandes leitoras. Tento usar o que sei sobre os interesses das crianças – o que elas acham engraçado, interessante – para fazer o romance andar. Ensinar em escola foi um ótimo treinamento para me tornar um autor de livros infantis.



ÉPOCA – Por que criar um herói com dislexia e déficit de atenção?

Riordan – Quando meu filho mais velho tinha nove anos, foi diagnosticado com esses problemas. Ler era muito difícil para ele. A única matéria de que ele gostava na escola era mitologia grega. Comecei a contar-lhes histórias em casa, e foi daí que Percy Jackson nasceu. Fiz Percy disléxico e com déficit de atenção para meu filho se identificar com ele. Essas diferenças de aprendizado seriam uma indicação de que você pode ser um semideus. Meu filho não teve problemas para acreditar nisso!



ÉPOCA – Como teve a idéia de misturar mitologia grega com a vida dos adolescentes contemporâneos?

Riordan – Quando você lida com história ou literatura, o
truque é sempre torná-las relevantes para um público moderno. Um jovem leitor sempre vai pensar: “por que eu deveria me importar com histórias que aconteceram há milhares de anos?” O problema se resolve quando a história acontece hoje. A premissa da série também é que a mitologia greco-romana influenciou profundamente a sociedade moderna. Os mitos ainda estão por todo lugar – na literatura, na TV, nos filmes, na arte, na arquitetura. Uma vez que você conhece mitologia, você a reconhece aonde quer que vá.



ÉPOCA – Percy não é muito ligado em tecnologia, que é tão presente na vida dos adolescentes. Por quê?

Riordan – Hoje é tão fácil ficar conectado. Mas eu precisava de Percy sozinho, então decidi que os semideuses não podem usar celulares. A tecnologia é como um sinalizador que alerta todos os monstros sobre a presença de um herói. Se um herói pode simplesmente mandar um SMS para seus amigos quando precisa de ajuda, isso tira todo o drama da história! Além disso, posso fazer os jovens leitores pensar: “Nossa, o que eu faria sem meu celular?”



ÉPOCA – Percy, que é também o narrador, é um menino sarcástico e irônico. Por que o quis assim?

Riordan – Talvez isso venha de mim. Possivelmente esse é o estado natural de um garoto de escola, entre 11 e 14 anos de idade. Essa é a faixa etária que eu conheço melhor, e se você não desenvolve um bom senso de humor e algumas tiradas, você nunca enfrenta bem esse período.

ÉPOCA – O senhor já sabia muito de mitologia. Mas teve de estudar outros assuntos para escrever os livros sobre Percy Jackson?

Riordan – Faço muita pesquisa, mas boa parte não é intencional. Por exemplo, cada cenário da série é um lugar em que eu e minha família já estivemos. Sempre conto as histórias aos meus filhos antes, e quis usar os lugares com os quais eles têm uma ligação pessoal – Nova York, Los Angeles, Denver, Las Vegas, Saint Louis. Para O mar de monstros (livro dois) Percy faz um cruzeiro pelo Caribe. Isso é algo que eu nunca havia feito, então minha família teve de viajar num cruzeiro para “pesquisa”. Ser escritor é dureza!



ÉPOCA – O senhor acha que a série Percy Jackson pode aumentar o interesse das crianças pela literatura clássica? Já ouviu falar de algum fã seu que decidiu lerOdisseia, de Homero, ou Eneida, de Virgílio?

Riordan – Escuto isso o tempo todo de professores e de bibliotecários. Professores usam o Percy Jackson com frequência como aquecimento para seus módulos sobre Homero ou sobre mitologia grega. Bibliotecários contam que suas seções de mitologia juntavam poeira até que Percy Jackson apareceu, e agora não conseguem manter os livros nas prateleiras. Acho isso maravilhoso.

ÉPOCA – Quais as diferenças entre escrever para crianças e para adultos, na sua opinião?

Riordan – Escrever para crianças é mais complicado, pois é um público mais difícil. Elas não vão ficar com você se sair dos trilhos. Você tem que manter a história em movimento e dar-lhes uma razão para se importar com ela. No entanto, escrever para crianças é muito mais divertido, porque elas ficam bastante entusiasmadas com os livros de que gostam. Também é algo gratificante, pois tenho a chance de transformar as crianças em leitores para a vida toda.



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